Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Burocracia na Morte

“O conhecimento da Hora só a Deus pertence, só Deus a fará surgir quando tiver de surgir. Ela será penosa nos céus e na terra e surpreender-vos-ás de um momento para o outro.” Maomé

“O conhecimento da Hora só a Deus pertence, só Deus a fará surgir quando tiver de surgir. Ela será penosa nos céus e na terra e surpreender-vos-ás de um momento para o outro.” Maomé

Burocracia na Morte

20
Jun19

78 - Cordeiro Verde - Missão "Novo Olhar" - A Fusão (6ª Parte)

Narciso Baeta

 

Platão.png

 

78

- Não doutor Lipièrre, já não vai fazer mais nada, agora sou eu que decido. Meus senhores, tenho de ir preparar-me para a viagem, ela vai exigir muito de mim!

Narciso e Rita levantam-se e vão passear para o vasto relvado que cerca a instituição. As próximas horas serão decisivas para os seus futuros, irão encontrar a paz de que desesperadamente precisam? O tempo parou para eles, não tem data, e espera algures encerrado num espaço anónimo, que alguém o empurre e o encaminhe para a hora certa. Os doutores Cinfuentes e Lipièrre permanecem sentados, em silêncio. Um casal de pardais namora atarefadamente numa poça de água, aproveitando os últimos raios de sol, que teimam em ficar na planície. Ela canta, com esforço, para o seu amado, que pica freneticamente a terra.

- Será que eles sabem onde estão? - Pergunta o médico americano.

- Devem ter mais certezas do que nós! Nascem, crescem, reproduzem-se e morrem, nada tão simples e ao mesmo tempo tão complexo.

- Mas nós também nascemos, crescemos, reproduzimo-nos e morremos, nisso somos todos iguais.

- Pensamos, Richard, no meio disso tudo pensamos, e é esse o nosso mal, o nosso grande pecado. Sócrates e Platão falaram, falaram e não disseram nada, mas no entanto explicaram tudo. As suas ideias duram há séculos e séculos, e na altura em que pensávamos estarem a ser enterradas para sempre, eis que chega um jardineiro, que só devia perceber de plantas, e nos promete levar até à Eva.

- Nesta fase das nossas vidas, devemos acreditar em tudo ou não acreditar em nada.

- Sempre o maldito do Sócrates a assoprar-nos aos ouvidos o “só sei que nada sei”! Passámos parte da vida a tentar curar os males das almas dos outros e agora são as nossas que se desfazem nas mãos.

- Álan, não temos nada a perder, só vamos ganhar!

- Ganhar, ganhar o quê?

- Ganhar os mistérios do Mundo, perceber de vez o que é a alma e isto tudo oferecido por um jardineiro cabeludo e barbudo.

- E nós a pensarmos que só os homens de fato e gravata eram os detentores do saber.

- Deuses também eram cabeludo e barbudo!

- Richard, estás a querer-me dizer que o Cabreiro-Maximiliano-Ponta-Mensageiro-da-Lua é....

- Não, não, mas deve estar tão perto!

De novo o silêncio, cúmplice e aterrador, belo e feio, feito de contrastes impossíveis e de sonhos vazios. Pensar uma vida e descobrir o nada, olhar para o horizonte e ver a harmonia. Quanto é que verão aquele Céu impávido e sereno, no meio de um anfiteatro rodeado de mundos, o ínfimo e o grandioso abraçado no mesmo espaço e em tempos diferentes. Deus, Tu que nos contemplas orgulhoso, como serão os Teus pensamentos? Estamos tão longe e tão perto de Ti, povoas-nos os sonhos e os pesadelos, és o Bem e o Mal, crias-Te as coisas simples e tornámo-nos tão complexos.

A Lua já vai alta, bonita e brilhante, lançando pela região uma cor aconchegante. O relógio da torre da igreja acaba de lançar para o ar as dez badaladas ensurdecedoras. Um autocarro ferrugento entra pelo portão principal, que está fechado, e detém-se junto da escadaria, onde quatro pessoas o esperam. A porta da frente abre-se e sai o jardineiro mais famoso de França, agora promovido a motorista, o senhor Cabreiro-Maximiliano-Ponta-Mensageiro-da-Lua, vestindo uma exuberante túnica branca da casa de Pedro Battatini.

- Senhores passageiros, bem-vindos a uma fabulosa excursão a Laputa, com passagem pelo hospital de Highlands e pelo planeta Eva.

- Mas que chique que o senhor está, – elogia a engenheira Rita Bouvalier.

- A esperança veste-se de branco, a cor mais fascinante do Universo! - Exclama o motorista, dando uma volta com os braços abertos.

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub