154 - Remédios
Quando o coração da freira filipina Remédios Garibaldi bateu pela última vez todas as recordações e sentimentos da vida regressaram com o mesmo deslumbramento da primeira vez, viu fecharem-se portas para sempre e viu outras a abrirem-se de rompante, tendo conseguido ver, pela primeira vez, a cara do assassino do seu marido, que morrera durante a guerra civil de Espanha, acontecimento que a levara a tomar a decisão de se mudar para um convento, juntamente com a sua fortuna, exceção do nome Remédios, que foi dado a uma sobrinha neta, Maria de Lourdes, gémea de um Carlos, menina que quis tomar para si e cria-la como filha por não ter filhos, mas como o pedido não fora aceite, pediu então que lhe acrescentassem o seu nome, que em Espanha era nome próprio. Ela sabia que o destino era fluido, porque estava na mão dos homens.
- Não sou mais do que uma mulher iludida, - disse um dia em confissão
- Não Remédios, é uma boa mulher, talvez boa demais para este mundo.
A única maneira de ver a verdade da vida é afastarmo-nos dela, para podermos ver as consequências de todos os pensamentos, de todas as ações. Mas mesmo assim estamos limitados ao tempo e ao espaço, incapazes de definir o nosso destino. Ele só está nas mãos de algumas mulheres.